A seletividade alimentar é uma questão bem frequente entre as crianças a partir de dois anos de idade - época em que muitas delas começam a se alimentar sozinhas e podem escolher o que e quanto comer.
Nessa fase, é comum que elas escolham comer um pequeno grupo de alimentos repetidamente, se recusando a experimentar coisas novas e deixando os pais enlouquecidos.
Se essa é a realidade aí na sua casa, saiba que você não está sozinho: muitas famílias enfrentam o mesmo desafio. E a boa notícia é que dá pra driblar os hábitos desses pequenos “comedores exigentes” tornando o momento da alimentação uma experiência interessante e lúdica, explorando todos os cinco sentidos da criança.
Mas antes, vamos tentar entender todo esse processo. Para começar, responda aí para você mesmo de forma bem honesta: qual é a primeira coisa que você faz quando vê um alimento ou prato pela primeira vez e tem que decidir se vai comê-lo ou não? Bom, você provavelmente olha para ele, toca, sente o cheiro e tenta entender o que tem ali na sua frente. Aí, se você não gostar da aparência, do aroma que ele exala ou mesmo da sensação que ele te provoca, tem grandes chances de decidir não prová-lo, certo? Pois então, essa reação é extremamente comum até em nós, adultos. Logo, por que pensamos que vai ser diferente com os nossos filhos?
Tudo para eles é uma novidade. De uma hora para outra, eles estão descobrindo um mundo de possibilidades, que vai muito além do leite que eles estavam acostumados até então. Portanto, uma das melhores maneiras de ajudar as crianças a superar sua ansiedade com a comida é conduzindo-as através do que chamamos na nutrição materno-infantil de "progressão alimentar" ou "degraus da alimentação". Abaixo, vou explicar melhor como isso funciona.
Nesta imagem podemos perceber que a experimentação de novos alimentos implica em avançar por várias etapas, que vão desde tolerar algo até decidir comê-lo, de fato. E como fazemos para percorrer todas essas etapas? Estimulando os sentidos da criança e incentivando-a a conhecê-los melhor. Vamos lá:
OLHAR
Peça para seu filho olhar para a comida. Eles precisam tolerar e se familiarizar com o alimento que está em seu prato. Então, pergunte a eles como eles acham que é, se parece crocante ou macio, doce ou salgado, tudo sem tocar na comida. Isso vai ajudar a reduzir a ansiedade inicial de conhecer algo pela primeira vez.
TOCAR
Depois de olhar tudo com atenção, faça seu filho tocar em cada um dos itens do prato. Deixe-o explorar formatos, texturas, temperatura. Se o seu filho não gostar de sentir um alimento nas mãos ou da sensação que ele causa, provavelmente não o comerá! Além disso, a interação com os alimentos também ajuda a eliminar a ansiedade gerada por não saber como será aquela comida.
CHEIRAR
O cheiro é uma sensação extremamente poderosa! Cheiros agradáveis de comida podem ser muito confortantes e, com o tempo, evocar boas memórias! Quem não se lembra do cheiro do bolo da avó, por exemplo? Portanto, cheirar a comida ajuda a criar experiências e memórias positivas sobre ela.
LAMBER
Antes da criança decidir colocar ou não o alimento na boca, estimule-o a lambê-lo. Muitas vezes, ao fazer isso elas já percebem que gostam do sabor e resolvem dar uma mordida! Caso contrário, está tudo bem também. Foi dado mais um passo rumo à experimentação de coisas novas e isso é o mais importante de todo esse processo.
Você pode permanecer em qualquer uma dessas etapas o tempo que for necessário. Aos poucos, a criança vai começar a construir sua familiaridade com os alimentos e, assim, aumentar a quantidade de itens que ela ingere. E não se desespere se ela recusar muita coisa na primeira vez. Estima-se que crianças podem precisar ser expostas a novos alimentos mais de 10 vezes antes de experimentá-los. Ou seja, será um exercício diário de amor e de muita paciência para todos os envolvidos.
Além disso, você também vai notar que esse processo é mais rápido com alguns alimentos e mais lento com outros. Logo, se você perceber que a criança gostou, por exemplo, de batata doce, experimente apresentar outros itens de textura e paladar semelhantes, como abóbora e mandioquinha.
Trabalhando essas etapas, acredite: você ajudará seu filho a superar a seletividade alimentar e se transformar num excelente provador de novos alimentos.
Em caso de dúvidas, deixem aqui nos comentários ou confiram a disponibilidade de horários da nossa agenda e marquem uma consulta. Estou totalmente à disposição para ajudá-los com as orientações necessárias e, mais do que isso, com muito acolhimento.